
“Alguém anotou a placa?”: o dito popular para uma surra, um atropelamento, um capotamento vale para o Ibovespa hoje. Fosse um desenho animado, acima do símbolo do IBOV estariam sobrevoando aqueles passarinhos e curativos sobre uma cara amassada. Porque foi isso que aconteceu nesta quarta-feira, em mais um dia de muito pessimismo e com a junção de fatores terríveis para os ativos. No final, o índice fechou com queda de 3,15%, aos 120.771,88 pontos, uma perda de 3.926,16 pontos, a maior baixa desde os 3,35% aferidos em 10 de novembro de 2022. É também o menor patamar de fechamento desde 120.445,91 pontos de 20 de junho deste ano, quase seis meses atrás.
A pancada na cabeça, que deixou o índice desorientado, serve também para o dólar comercial, que fechou com alta de 2,82%, a incríveis e inéditos R$ 6,267, maior valor nominal da história. Para piorar, os DIs (juros futuros) aceleraram para próximos de 16%, com altas por toda a curva. Alguém anotou a placa?
Pacote fiscal desidratado
O atropelamento aconteceu por vários fatores. Os agentes financeiros analisaram o texto-base de projeto de ajuste fiscal aprovado pela Câmara dos Deputados. Se o pacote de corte de gastos do governo federal não agradou, a Câmara dos Deputados tratou de piorar tudo.
O Congresso Nacional aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que orienta o Orçamento de 2025, rejeitando a possibilidade de corte em emendas parlamentares, aumentando o reajuste do fundo partidário, autorizando gastos de estatais fora do arcabouço fiscal e afrouxando o cumprimento da meta fiscal no ano que vem. E os líderes ainda negaram aprovar qualquer mudança no BPC. Uma farra.
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo está “fazendo sua parte” para equilibrar o dólar nas alturas. Mas as falas parecem ter sido atropeladas por outra realidade, a dos mercados. Pior: o ministro afirmou que a parte da conta dos militares no corte não será votada esta semana.
No Congresso, a reforma tributária foi aprovada e vai para sanção do presidente Lula em janeiro. O secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, estima que a redução da sonegação, inadimplência e fraude pode diminuir a alíquota em 3 pontos percentuais e o IVA verá sua alíquota média cair. Nada disso animou o mercado.
Redução de cortes por parte do Fed
Piorou ainda mais, depois que o Federal Reserve diminuiu sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual e avisou: vai pisar no freio. “A partir daqui é uma nova fase, vamos ter mais cuidado com novos cortes”, disse o presidente da instituição, Jerome Powell. “Agora, podemos ser mais cautelosos no futuro na redução das taxas”, sublinhou.
E o próprio banco central norte-americano projetou cortes totais de apenas 0,5 pp em 2025 e da mesma magnitude em todo 2026. As bolsas em Wall Street desabaram e o Dow Jones caiu pelo décimo pregão seguido, algo que não se via desde 1974.
Apenas 3 ações sobem no Ibovespa
Por aqui? Um Ibovespa toda machucado, fraturado e com passarinhos rodeando a cabeça, tonto, sem disposição, para baixo, ladeira abaixo. O resumo do dia pode vir em uma afirmação: apenas Marfrig (MRFG3) subiu, com 1,81%, além de MRV (MRVE3), com 1,54%, e Santos Brasil (STBP3), com 0,54%. Todo o resto ficou amassado no asfalto pelo atropelamento dos acontecimentos.
Bancos perderam entres 2% e 4%. Magazine Luiza (MGLU3) desabou mais de 10% e seus pares no varejo perderam em torno de 6% cada. A Azul (AZUL4) caiu mais de 11%. Vale (VALE3) cedeu 2,32% e Petrobras (PETR4) recuou 2,58%.
É improvável identificar entre os destroços quem é quem. E a semana ainda tem dois dias. Dois de dias que a política pode gerar mais más notícias com relação ao corte de gastos. Quem poderá anotar a placa?